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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Eita Profissão!!

Bióloga atacada por jacaré na Amazônia luta pela preservação da espécie

Deise Nishimura deixou São Paulo para viver numa casa flutuante dentro de uma reserva ecológica. Num momento de distração, foi atacada por um jacaré com mais de quatro metros.

Daniela Assayag Manaus, AM
Luzes na escuridão. De longe até parece uma cidade, mas os pontos que brilham são olhos, que se movem perigosamente na água.
Alguns pesquisadores garantem que, em Mamirauá, existem 90 jacarés para cada habitante da reserva. Com esses vizinhos sempre à espreita, banho de rio no local é proibido. Mas quando o sol esquenta, fica difícil segurar as crianças.
O jacaré açu é o maior predador da América do Sul. Alguns medem mais de seis metros. Quando um bicho desses morde alguém, dificilmente a vítima sobrevive. Em dezembro, na véspera do ano novo, em Mamirauá, a bióloga paulista Deise Nishimura limpava peixe na beira da casa flutuante onde morava, quando foi arrastada para a água. Mesmo desarmada, ela decidiu lutar pela vida.
“Nessa hora eu achei que tinha morrido, mas lembrei que num documentário eu vi que, quando você é atacada por um tubarão, a parte mais sensível do tubarão é o nariz. Aí pensei qual seria a parte mais sensível do jacaré. Coloquei a mão na cabeça dele e achei dois buracos. Não sei se era o nariz ou o olho, e enfiei meus dedos e apertei com toda a força. Foi quando ele me soltou. Nessa hora percebi que já estava sem a minha perna”, diz a bióloga.
Deise nadou até a beirada da casa, mas não conseguiu subir. Teve de escalar um tronco para sair da água. Exausta, gritou por socorro, mas não havia ninguém por perto.
A bióloga se arrastou até a sala de rádio e pediu ajuda. Quinze minutos depois, os funcionários da reserva chegaram. Fizeram torniquetes em suas pernas e levaram a bióloga até Tefé. No hospital, uma hora depois, o médico ficou espantado.
“A Deise chegou naquele dia no hospital em estado de choque. Se fosse uma outra pessoa e não tivesse a resistência que ela tem e a sorte que ela teve, não teria sobrevivido a esse tipo de ataque”, afirma Adalberto Villa Lobos, médico que a operou.
O que mais chamou a atenção do médico é que a artéria femural de Deise permanecia bloqueada, mesmo sem o torniquete. Isso impediu que ela morresse de hemorragia. .
“Chegando no hospital, o médico até estranhou que eu não tinha perdido muito sangue. Ele acha que, na hora do ataque, o jacaré, na hora em que estava me girando, deu uma torcida na artéria e estancou o sangue”, explica.
Nos oito meses em que trabalhou na reserva, Deise tirou várias fotos do jacaré, que gostava de dormir debaixo da casa flutuante onde a bióloga morava.
No dia seguinte ao ataque, os ribeirinhos da reserva mataram o animal, encontraram a perna de Deise e levaram até o hospital em Tefé. Mas, segundo o médico, não havia como tentar um reimplante.
“O reimplante foi descartado por causa do tipo de lesão que o jacaré causa numa perna ou em qualquer membro que é atacado”, explica Villa Lobos. “Mas, graças a Deus, conseguimos fazer uma intervenção cirúrgica muito boa. Conseguimos limpar tudo e não houve nenhuma infecção”, afirma.
A bióloga voltou a morar em São Paulo, onde faz fisioterapia para receber uma prótese e reaprender a caminhar. Apesar de tudo, diz que ficou triste ao saber que mataram o jacaré. Ela é contra a liberação da caça. “Se a gente deixar, a população ribeirinha extermina todos os jacarés porque já não gostam desses animais. Se a gente liberar, eles vão acabar mesmo”, diz.
Com a coragem de quem já enfrentou uma fera e sobreviveu, Deise fala do ataque com tranquilidade, e diz que não vê a hora de voltar para a selva.
“Eu quero mesmo voltar para o Amazonas, voltar a fazer a pesquisa que eu estava fazendo com o boto vermelho. Um amigo meu que pesquisa jacarés vai me levar para ver jacaré durante a noite porque, se você joga a luz forte nos olhos deles, brilha. Vai ser muito legal”, conta a bióloga.
Deise se recupera de mais uma cirurgia feita em junho e confirma que quer mesmo retomar o seu trabalho como bióloga na Amazônia no ano que vem.
FONTE: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2010/08/biologa-atacada-por-jacare-na-amazonia-luta-pela-preservacao-da-especie.html

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